PNEDQNL :: a exposição :: pra rememorar o organismo e a memória
- codinome Jonas
- 28 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de set. de 2024

texto crítico para Revista Adesiva - edição Afetos. 06/2024.
::
da infância. meu pai lia repetidamente uma história bíblica ilustrada pra mim: mar agitado, homens em desespero, tomadas de decisão; mas o que realmente me prendia eram os peixes verdes se esquivando das ondas azuis. aí meu impulso pueril: tocar a imagem e sentir o corpo dos bichos. disso, o que recebia era o toque plástico do papel sem poros! apenas. talvez por isto esta memória percruze meus tempos: não pela força da expectativa momentânea, mas as modulações de imagem e sentido em cada rememoração, saca? não me distancio da potência da memória porquê ela se refaz de forma palpável — mais do que os peixes.
foi esta minha rememoração ao visitar PRA NAO ESQUECER DO QUE NAO LEMBRO, exposição gestada entre pesquisas acadêmicas, encontros profissionais e, principalmente, trocas afetivas de Amanda Lavorato, Bruno Viana, Francisco Sandmann, Gustavo Barczak, Leonardo Faganello, Lui Wiecz, Luísa Lopes, Mazi Moreto, Rodrigo de Miranda e Tifanny Dopke.
após adiamento e maturação dos trabalhos dentro de outro espaço, a casa-exposição destes artistas se instaurou com trama de memórias: furtivas, enraizadas, com desejo de fixação, de remoção, remodelação, assentamento, partilha e execução.
em PRA LEMBRAR DO QUE NAO LEMBRO (tal exposição), se valendo da infusão necessária ao acessar as memórias, os trabalhos abriram acomodação ao ritualístico, ao adentramento do expectador que é adentrado.
seja acompanhando as voltas que o fio rosa dá ao encobrir a estrutura-metal até que alguma casa saturada salte ao acolhimento OU as voltas que a manivela empresta das mãos até trazer aos olhos a energia do movimento; OU seja no assumir como organismo próprio o objeto que tem o abraço como suporte OU recebendo o balanço da voz e das ondas que carregam multidão de vivências de um que se torna outros; OU santificando a imagem [e autoimagem] juntamente pela humanização de um ente OU no reconhecer como inteiro e vivo o ajuntamento material e simbólico que brinca com a interferência da memória e do reconhecimento desta como item orgânico e volátil; OU ainda no empilhamento físico do que parte do uso infantil para o de liberação da lembrança OU seja tocando a intimidade aberta ao desconhecido, que não se desgasta nem esvazia;
sejam em quais forem as nuances e potências que PRA NÃO ESQUECER DO QUE LEMBRO (a exposição) tenha sido percebida, fato é que não se trata de exposição de arte — ao menos não nos moldes do que tem rondado a cena curitibana — ou unicamente de "temáticas, motivos e poéticas de produção", mas da performance do objeto de arte em seu caráter especulativo e convidativo. isto é, ela não se fecha em significantes estrangulados pelo discurso e, de igual maneira, é gentil em se pôr em dissolução, sem medo de perdas: a memória [e o afeto] não é mero discurso; é casa aberta à visita — muito mais à moradia.
há, obviamente, linhas do discurso, da prática, do trabalho em arte que ficam contra a quina, porém são suspensas dessa fala porquê daquelas eu mal lembro. e não faço questão.
inclusive, sobre não lembrar de coisas, nunca recordo o nome dessa casa-exposição! mais uma coisa que não faço questão pois não é o nome, mas o endereço que tenho em prestígio.
Comments