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relógio #01

grafite, couché 90g, giz pastel oleoso e  madeira | 2024

feito entre momentos de pausa num trabalho de regime CLT, os desenhos agora fixados em "relógio #01" implicam alguma conversa entre diretrizes de afincamento e suas afetações. o processo todo: tomo etiquetas de preço das gôndolas da farmácia, desenho partindo sempre da forma dos sóis, alfineto os papéis e encaixoto. mas o jogo óbvio com tempo, relógio, sol, tropeça um pouco além :: meu corpo está implicado em processos de movimentos curtos; restritos por uma observação-externa, por um esconder-interno. eu sempre debruçado sobre. quanto de cuidado e apetite estão nestes desenhos? e quanto se mantém quando alfinetados e amostrados como contadores de um fluxo de tempo sem definição? 

:: trecho de "o outro profeta" ::

"[...] Conto os dias nos dedos, em obviedade. Conto e esqueço da conta; me provoco o esquecimento, pois não tenho prazo próprio definido. Meus dias vão e irão menos ou mais em independência ao desejo do meu peito — e meu peito se lamuria. Ele me chora porque amaria estar constante, mas sabe que não é nossa mão que puxa ou solta a corda. Momento qualquer, um tropeço, um engasgo, um susto, coisa qualquer nos mata os corpos. Por isso conto o hoje e o ontem e o amanha e o anterior e o depois, que ainda são frescos para minhas passadas e me entregam sossego. Só que o antecessor e posteiror destes dias, deixo ir; que são eles que inferem dano ao que vejo do meu corpo presente — viro as costas. São eles que pedem e cobram por tudo quanto foi vivido e expectado, e eu não busco estabelecimento em coisas que não me são: apenas o que cabe na escrita da ponta dos meus dedos-marcadores é o que sou. E meu peito acalento entre as pernas enquanto marco o dia de hoje, encocorado, em memória de quando o não-dia era berço e a lamuria não nos encontrava."

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